“Gaita, estes gajos dificultam-nos o trabalho com tanta indecisão”, vociferava o sr. presidente perante o chefe da redacção que, já com a notícia prontinha e com todos os detalhes do que iria ocorrer, aguardava as instruções para não publicar nada que desagradasse aos donos (do caneiro e das consciências ali assalariadas):

- “Ó Chico” – exclamou logo que entrou no tugúrio e dirigindo-se ao chefe de redacção – “muda a data no texto que já tens pronto com os detalhes da invasão e manda-o para o ar imediatamente. Não podemos deixar-nos ultrapassar pelos outros caneiros, também sequiosos do sangue que faz aumentar as audiências e, consequentemente, as respectivas contas bancárias.”

- “E prepara imediatamente um enviado especial para embarcar já para a cena de guerra. Não te esqueças de lhe dar instruções precisas sobre o que deve dizer e mostrar, quem deve entrevistar e as perguntas que convém fazer. Cuidado, que a concorrência é forte e não podemos cometer erros que ponham em causa a nossa fidelidade a quem nos paga. O senhor ministro SS não nos perdoaria…”

Larguei o poiso de onde observei esta cena e, fiel a um vício que ganhei há muitos anos, pus-me a pensar... Mas, antes, passei os olhos pelo jornal “A Bola” para me intelectualizar um pouco mais e fiquei então a saber que a FIFA e a UEFA riscaram a Rússia das competições no seu território, com o apoio quase unânime da “futebolada” mundial. O que acho muito bem, pois vem na linha do procedimento habitual nestes casos.

Sim, quem não se lembra do que se fez aos americanos e seus aliados aquando do desmantelamento da Jugoslávia, das invasões e/ou intervenções no Afeganistão, Síria, Iraque, Líbia e outras que agora me não vêm à memória? Digo-vos eu, que sou cego, que os vi serem banidos de todas as competições por muitos anos.

Israel, então, que há décadas vem ocupando o território palestiniano e assassinando lentamente aquele povo, está impedido de chutar na bola seja onde for… (Ai, como adoro estes democratas de vão de escada!)

Mesmo assim, ainda vai aparecendo uns seres lúcidos que têm a coragem (sim, nos dias de hoje é preciso coragem) de pôr as coisas nos seus devidos lugares. Cito, como exemplos, Carlos Carvalhal (treinador do Sp. Braga) e o Major-General Raul Cunha (este convidado, certamente por engano, pela RTP para comentar os acontecimentos na Ucrânia).

Uma lufada de ar fresco entre tanta porcaria diariamente despejada em nossas casas, para gáudio da nacional acefalia

In Jornal do STAL n.º 122