A pandemia COVID-19 tornou mais visíveis as gritantes desigualdades e injustiças à escala mundial, as consequências da privatização, do desmantelamento ou ausência de serviços públicos de saúde em inúmeros países, contrárias à resposta sanitária e a critérios de valoração da vida humana, em função do seu valor intrínseco, mostrando o que significa a solidariedade para os neoliberais e seus parentes, eles que estão sempre dispostos a afirmar o respeito absoluto pelos direitos humanos e pela liberdade individual. Mergulhada na crise, e perante as diferenciadas consequências do surto epidémico em cada um dos seus 27 membros, a União Europeia tem vindo a revelar a sua natureza de classe.
Em vez da resposta solidária e cooperação que se exigiria, a União Europeia tem tido uma postura que se tem pautado pela ausência de soluções adequadas à dimensão dos problemas, prevalecendo os interesses das principais potências e os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, preocupados que estão em manter o seu domínio no período pós-pandémico.
Em Portugal, o PIB deverá cair este ano entre 7,5% a 10%, o défice orçamental deverá situar-se entre 6,5% a 9,0%, o emprego deverá cair cerca de 5% e a taxa de desemprego, que em 2019 foi de 6,5% em sentido restrito e de 12,7% em termos reais, deverá subir respectivamente para 11,0% e 17%. Quer isto dizer que a taxa de desemprego poderá quase duplicar neste ano e o desemprego real poderá chegar a cerca de 1 milhão de trabalhadores, quando em 2019 atingiu 690 mil trabalhadores.
As propostas apresentadas pela Comissão Europeia, relativas ao Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 e ao denominado "fundo de recuperação", serão ainda objecto de debate e aprovação pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento Europeu.
Rejeitaremos que a solução encontrada passe pela criação de um “fundo” assente em “impostos europeus" cuja receita venha a reverter para o orçamento da UE, sendo assim desviada dos orçamentos nacionais e limitando o desenvolvimento soberano de cada Estado, apropriando-se dos impostos pagos pelos trabalhadores em função das prioridades da UE, segundo os interesses das principais potências e dos grandes grupos económicos e financeiros dominantes.