ANTÓNIO MARQUES

P23 Autores JST131 OUT25 WebEDUARDO GAGEIRO E SEBASTIÃO SALGADO

Os dois fotógrafos deixaram-nos este ano, mas as suas obras – que enaltecem a dignidade humana, o valor da memória e o poder da imagem como agente de mudança – perdurarão por muito tempo.

Sebastião Salgado faleceu em 23 de Maio, aos 81 anos, e Eduardo Gageiro a 4 de Junho, com 90 anos. Como legado, deixaram uma obra fotográfica que vai além da sensibilização estética, incorporando um profundo e multifacetado impacto social, em diversas dimensões: denúncia, sensibilização, transformação cultural, memória colectiva e até projectos concretos de intervenção social e ambiental.

Com um percurso mais internacional, Salgado usou a sua câmara para documentar a miséria, o êxodo, o trabalho árduo e a destruição ambiental em mais de 120 países, com uma abordagem humanista que coloca em foco a dignidade e o sofrimento dos marginalizados, tornando visíveis realidades muitas vezes ignoradas pelo grande público.

O impacto do seu trabalho inspirou debates sobre justiça social, direitos humanos e políticas públicas. Exemplo notório é o projecto «Instituto Terra», fundado na sua terra natal, Aimorés (Minas Gerais, Brasil), que recuperou milhares de hectares de Mata Atlântica, numa demonstração prática de que a fotografia pode mobilizar recursos, pessoas e acções em prol de causas sociais e ambientais.

As suas imagens icónicas são amplamente usadas como instrumentos de reflexão, formação crítica e mobilização, expandindo o seu efeito de transformação cultural, e provocaram uma reflexão sobre os limites entre estética e ética na fotografia da pobreza e da tragédia, que desafia a objectificação e procura dignificar o retratado, estimulando discussões importantes na área do fotojornalismo.

MEMÓRIA, HUMANISMO E CONSCIÊNCIA SOCIAL
Já Eduardo Gageiro – que gostava de ser recordado como “um rapaz de Sacavém que procurou sempre denunciar as injustiças” – é uma referência incontornável na construção da memória colectiva portuguesa, cujas imagens – sobretudo do 25 de Abril de 1974, da vida operária e do quotidiano – são documentos visuais que ajudam a sociedade a reflectir sobre a liberdade, a desigualdade social e as transformações políticas do País que documenta desde os seus 12 anos.

Gageiro elevou o fotojornalismo português, documentando o drama e a alegria do nosso povo com profunda sensibilidade, através de fotografias que contribuem para um olhar crítico sobre a sociedade, qual instrumento de denúncia da desigualdade, da profunda injustiça social e da pobreza de Portugal e do seu povo durante a ditadura fascista, qual protesto silencioso e de resistência democrática, pelo que também não escapou à censura em diversas ocasiões.

Também conhecido como o “fotógrafo do Povo e da Revolução”, Gageiro confessou-se “um homem de coragem por trás de uma máquina”, que se atreveu a ir além, revelando o Portugal a preto e branco de Salazar, tal como a tragédia das cheias de 1967.

Dos destaques maiores da sua obra, destaque para as coberturas do atentado nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, e da Revolução de Abril de 1974.

A sua influência ajudou a transformar a fotografia em Portugal de um mero acessório ilustrativo para um instrumento de narrativa histórica e intervenção política, assente numa cultura visual comprometida com os valores democráticos.

OS “INVISÍVEIS” DA SOCIEDADE
O legado cultural de ambos ultrapassa largamente o universo da fotografia, influenciando debates sociais, políticos, ambientais e culturais, ou Salgado e Gageiro não tivessem utilizado a fotografia como denúncia social e instrumento de sensibilização, sendo as suas imagens frequentemente usadas como mobilizadoras da consciência social e acção política.

São bons exemplos disso as obras “Trabalhadores” (1993), “Terra” (1997), “Serra Pelada” (1999), “Êxodos” (2000) e “Génesis” (2013), em que Salgado documentou transformações económicas e humanas do séc. XX em diversas partes do Mundo. Ao retratar camadas “invisíveis” da sociedade, conferiu dignidade a populações marginalizadas sem recorrer ao sensacionalismo, tendo o seu trabalho sido aclamado mundialmente como “património cultural da humanidade” pelo seu arquivo visual, que serve como espólio ético, estético e político do nosso tempo.

Por seu lado, o legado de Gageiro está intrinsecamente ligado à história contemporânea de Portugal, sobretudo pela cobertura ímpar da Revolução dos Cravos, com as suas fotografias a tornarem-se documentos fundamentais da nossa memória colectiva e símbolos visuais do processo democrático nacional.

A sua câmara captou a vida fabril, o trabalho e o quotidiano do povo português durante décadas, bem como as grandes figuras da cultura, do desporto e da política nacional, e que ficaram eternizados nos seus livros, como “Gente” (1971), “Revelações” (1995), “Fotos de Abril” (1999), “Olhares” (1999), “Silêncios” (2010) ou “Liberdade” (2013).

As suas fotografias ajudaram a documentar e a denunciar as realidades social e política do País, contribuindo para a construção de uma consciência crítica e uma cultura de liberdade em Portugal, sendo essenciais para se compreender o Portugal moderno.

powered by social2s
8 Novembro | Todos a Lisboa contra o pacote...
Qua., Out. 22, 2025
Luta prossegue já em 24 de Outubro e 8 de...
Qua., Out. 15, 2025
Trabalhadores dos transportes colectivos...
Sex., Out. 10, 2025
Trabalhadores da ÁGORA realizam vigília em...
Sex., Out. 10, 2025
Greve na EMARP com forte adesão
Sex., Out. 10, 2025
24 Out | Greve Nacional dos trabalhadores...
Qui., Out. 09, 2025
Dia 12, vota em autarcas que defendem a...
Seg., Out. 06, 2025
Luta dos trabalhadores da Associação de...
Seg., Out. 06, 2025
Circuito Nacional “Varrer a exploração do...
Sex., Set. 26, 2025
Milhares de trabalhadores protestam em...
Seg., Set. 22, 2025
Trabalhadores dos transportes colectivos...
Qua., Set. 17, 2025
Principais ataques à legislação laboral que...
Ter., Set. 16, 2025
Jornada nacional de luta dia 20 de...
Seg., Set. 15, 2025
Plenário Geral reúne meio milhar de...
Sex., Ago. 22, 2025
STAL solidário com bombeiros, trabalhadores...
Ter., Ago. 19, 2025
STAL comemora 50.º aniversário no Porto com...
Qui., Ago. 14, 2025