António Marques
AQUILINO RIBEIRO (1885-1963)
Empenhado e aguerrido oposicionista da monarquia e do regime salazarista, conheceu por duas vezes a prisão, onde sofreu as sevícias dos regimes da altura. A ditadura fascista apreendeu-lhe “Quando os Lobos Uivam”, obra pela qual foi preso pela segunda vez.
Aquilino Ribeiro é um dos maiores escritores da Língua Portuguesa, e a sua vastíssima obra (em que cabe quase um século inteiro e que deveria suscitar outro respeito) é menos divulgada porque, ainda hoje, assusta a crítica e os poderes instituídos.
Nasceu em 13 de Setembro de 1885, em Carregal da Tabosa (concelho de Sernancelhe), e durante várias décadas retractou, pela voz do povo, a vida dos campos e das cidades, e numa tamanha riqueza verbal que não possui similar na literatura portuguesa, nem mesmo na ficção camiliana.
Aos 17 anos, acabado o liceu em Lamego, os pais moveram-lhe uma “guerra muda”: como o queriam no seminário, deixaram de lhe falar, não lhe achocalhando mais no bolso qualquer vintém. Lá foi, muito contrariado, para o Seminário de Beja. Mas, nem os seminaristas a zumbirem como colmeia na oração, nem a sotaina ou o barrete puderam nada com ele...
E por completa ausência de vocação (seria expulso do Seminário em 1904) e excluída a pretensão a tornar-se amanuense dos Caminhos de Ferro, o jovem Aquilino encontra refúgio nos livros. Dirá, mais tarde: “Refugiei-me na literatura como num convento do Monte Atos. Entrava para a Biblioteca Nacional com o abrir do portão e era o último a largar.”
Influências bebeu-as em Anatole France e, mais ao longe, em Flaubert, dos quais retira o seu gosto pela evocação filosófico-histórica e pelas aventuras de cunho sensual que transbordam dos seus romances ou das suas novelas.
Na vida, coube um romantismo aventuroso à Victor Hugo, sempre de “peito feito” contra as tiranias e os despotismos vários, não se vergando nem às sotainas da sua adolescência, nem aos ferrolhos das prisões, nem a juízes, monarcas ou ditadores.
NEM À LEI DA “BALA E BAIONETA”
É o mais empenhado e aguerrido escritor contra a monarquia liberal e contra o regime de Salazar, tendo conhecido as sevícias dos regimes de então, nas duas vezes em que esteve preso.
Em 1907, acusado de ser anarquista, Aquilino é preso na sequência de uma explosão no seu quarto, em Lisboa. No ano seguinte, evade-se da prisão, e durante a clandestinidade em Lisboa mantém contacto com os regicidas e tem conhecimento dos seus planos.
Fugiu para Paris após o regicídio, e regressa a Portugal após o 5 de Outubro de 1910, mas volta para Paris, onde conhecera a alemã Grete Tiedemann, com quem casar-se-á após uma estada na Alemanha. Em 1914, nasce-lhes o primeiro filho (Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro) e publicará um novo livro («Jardim das Tormentas»).
Já com um prestígio muito ancorado na sua obra e na sua personalidade, em 1958 publica o famoso romance «Quando os Lobos Uivam», que se tornou duplamente célebre: pelo conteúdo e pelo inacreditável processo que a ditadura fascista lhe moveu, e que lhe custou mesmo a segunda experiência atrás das grades.
No seu relatório, o censor considera tratar-se de um “romance panfletário” e “um odioso ataque à actual situação política”, que “numa prosa viril classifica o Governo de ‘piratas’”, descrevendo várias entidades oficiais “em termos indignos e insultuosos”. E lamentando que o original não tivesse sido submetido à censura prévia, considera que é “de toda a justiça mandar apreender o livro”.
Aquilino é pronunciado pelo crime de abuso de liberdade de expressão, sujeito ao vexame dos interrogatórios e à afronta das mesquinhas diligências processuais. Mas a enorme pressão de um movimento de escritores portugueses e estrangeiros (no Brasil tinha saído um livro em defesa de Aquilino, «Quando os Lobos Julgam, a Justiça Uiva»), que promovem uma petição para que seja libertado, leva a que o processo seja arquivado, tentando o regime de Salazar salvar a sua face bolorenta.
Escritor sem medo, é, aos 74 anos, um dos promotores da campanha do general Humberto Delgado. “Não nos queiram ditar a vossa lei pela bala e a baioneta” dizia.
Um dia, Portugal será justo para com «O Homem que Matou o Diabo» (1930).
BIBLIOGRAFIA (Resumo)
Com uma obra vasta, Aquilino destacou-se, sobretudo, no romance e novela:
1918 - A Via Sinuosa
1919 - Terras do Demo
1920 - Filhas da Babilónia
1926 - Andam Faunos Pelos Bosques
1930 - O Homem Que Matou o Diabo
1932 - A Batalha Sem Fim
1932 - As Três Mulheres de Sansão
1933 - Maria Benigna
1936 - Aventura Maravilhosa de D. Sebastião Rei de Portugal Depois da Batalha com o Miramolim
1937 - São Bonaboião: Anacoreta e Mártir
1939 - Mónica
1941 - O Servo de Deus e a Casa Roubada
1943 - Volfrâmio
1945 - Lápides Partidas
1947 - Caminhos Errados
1947 - O Arcanjo Negro
1954 - Humildade Gloriosa
1957 - A Casa Grande de Romarigães
1958 - Quando os Lobos Uivam
1958 - A Mina de Diamantes
1962 - Arcas Encoiradas
1963 - Casa do Escorpião