“2 DEDOS DE CONVERSA” SOBRE A ACTUAL SITUAÇÃO SÓCIO-LABORAL
Baixos salários, precariedade, falta de perspectivas de progressão, horários incompatíveis com a vida pessoal e familiar… Eis os principais problemas denunciados pelas duas dezenas de participantes na iniciativa organizada pelo STAL, na sua sede (em Lisboa), em 11 de Janeiro, inserida da preparação da 10.ª Conferência Nacional da Interjovem (CGTP-IN), realizada no passado dia 23.
Ao longo de uma manhã de sábado, em redor de uma mesa e, depois, no almoço-convívio, os jovens trabalhadores sócios do STAL – de Norte a Sul do País, bem como dos Açores e Madeira – partilharam as suas experiências, analisaram e discutiram as políticas para a juventude (ou melhor, a falta dela) dos sucessivos governos (PS e PSD/CDS), nomeadamente o da actual coligação de direita, concordando nas poucas oportunidades para usufruírem de uma vida e de um futuro digno, problemas que juntam-se ao aumento do custo de vida, ao condicionamento do direito à habitação e às consequências das opções de direita.
Quatro participantes partilham, com o “Jornal do STAL”, a sua visão e o que sentem sobre a sua situação actual e futura, na dupla condição de jovens e trabalhadores. Além do diagnóstico negativo, são igualmente unânimes em reconhecer a importância da sindicalização, aqui na voz de Francisco Silva: “Sou sindicalizado porque acredito que, só com o sindicato e colectivamente, conseguiremos mudar alguma coisa no local de trabalho, e mostrar que os trabalhadores são importantes, mas que precisam de melhores salários e condições de trabalho.”
“FUTURO BASTANTE DIFÍCIL”
Rafaela Rocha (32 anos), enfermeira veterinária na Câmara Municipal de Guimarães: “Vejo um futuro bastante difícil, sem apoios para comprar casa e, muito menos, para constituir família. Muitas vezes, não temos tempo para nós, para os amigos ou para a família. Muitos jovens não têm condições para ter filhos, para criarem uma família, pois faltam salários dignos, estabilidade de emprego e horários compatíveis. As rendas são caras, é quase impossível um jovem casal conseguir pagar [o empréstimo de] 800 ou 900 mil euros a um banco na compra de casa. É também essencial haver boas condições de trabalho para se ter estabilidade emocional; é que não basta haver bons salários se não houver saúde para o gastar...”
“É COMPLICADO ORIENTAR A VIDA”
Vidal Freitas (34 anos), canalizador na CM Vila do Porto (Ilha de S. Maria): “Ser jovem e trabalhar na Administração Local é complicado. Sou de uma ilha relativamente pequena, onde há poucos jovens e poucos incentivos para se trabalhar na Administração Pública. Talvez seja só o vínculo formal e o ordenado certo no final do mês, que ajuda quando pedimos crédito ao banco para uma casa. Mas os salários são baixos, recebo o salário mínimo, o que acaba por dificultar tudo; carrito talvez só em 2.ª mão… Na verdade, se não tivermos um ‘biscate’ ou se não fizermos trabalho suplementar, para ir buscar mais um dinheirinho, é complicado orientar a nossa vida, casar, ter filhos, uma vida estável. Medidas como o IRS Jovem é ‘atirar areia para os olhos’, não resolve nada. Depois, há a questão do SIADAP, que só nos prejudica.”
“SE CALHAR, NEM REFORMA VOU TER”
Bruno Valverde (31 anos) mecânico de pesados e de máquinas na CM Amadora: “Olhando para os meus colegas mais antigos, não vejo grandes perspectivas de futuro, embora espero melhor e faça por isso, mas não é fácil. Os salários são baixos, muito aquém do que deveriam ser e se calhar nem reforma vou ter. As condições de trabalho têm melhorado, mas o problema principal é o salário, que é pouco. Os trabalhadores da Função Pública têm de ser mais valorizados e dignificados. É preciso renovar as gerações, sem pôr os mais velhos de lado, porque são eles que têm a experiência, mas é preciso contratar mais jovens.”
“PRATICAMENTE É SOBREVIVER”
Francisco Silva (25 anos), pintor na CM Sines: “A nossa vida está muito complicada. As carreiras estão estagnadas e as nossas profissões não são valorizadas. Sem isso, não haverá mais jovens a querer vir para a Administração Pública. Prestamos um serviço público, essencial a todos, e quanto mais nos sentirmos valorizados no trabalho, melhor será o serviço prestado. E isso passa por melhores salários para cobrir os nossos gastos. Pago renda e um carro, o que é muito complicado. Praticamente, é sobreviver... Com estes salários é muito difícil, quase impossível, conseguir formar e sustentar uma família, com as despesas de habitação, saúde, educação, carro… Tenho um familiar, que trabalha também na câmara, e que não me conseguiu dar melhor educação, devido aos baixos salários…”