José Alberto Lourenço | Economista
INFLAÇÃO: ADENSAM-SE AS NUVENS NEGRAS!
A subida geral dos preços em Janeiro, comparativamente com o mesmo mês de 2021, foi de 3,3%, e em Fevereiro de 4,2%. Se este ritmo se mantiver nos próximos meses teremos, no final deste ano, uma inflação anual entre 3 a 4%, o que significa um forte agravamento do poder de compra dos trabalhadores e das suas famílias em 2022.
Em termos técnicos, costuma dizer-se que existe inflação quando se verifica um aumento do nível geral dos preços dos bens e serviços que constituem o chamado “cabaz de compras” das famílias, isto é, todo o conjunto de compras que uma família faz, em média, durante um determinado período, normalmente um mês.
Essas despesas das famílias, de acordo com o actual Índice de Preços no Consumidor (IPC), aparecem agregadas em 12 grandes grupos de despesas, tendo cada um grupo destes grupos um peso próprio no total das despesas mensais dos agregados familiares.
Ou seja, actualmente considera-se para o cálculo da inflação que uma família média gasta do seu orçamento mensal 22% em alimentação e bebidas; 9,7% com despesas com a sua habitação, incluindo a renda; 15,1% em transportes; 2% em educação; 6,9% em saúde, e assim sucessivamente.
Nos casos, que serão certamente muitos, em que a estrutura das despesas difere desta estrutura média, a inflação suportada pelas famílias é naturalmente diferente daquela que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga mensalmente.
Quem não ouviu ainda falar dos muitos casais jovens, em que a prestação mensal do empréstimo da casa consome mais de 1/3 do salário mensal e não os 9,7% considerados no cálculo da inflação, ou quem ainda não ouviu milhares de trabalhadores a queixarem-se das elevadas despesas mensais com as creches e os infantários dos seus filhos, ou também quem não se queixou do elevado custo das despesas com alimentação e saúde? Nestes casos, a inflação suportada por estas famílias é, certamente, bem superior àquela que os indicadores oficiais apresentam.
INFLAÇÃO SOBE…
Depois de vários anos em que os níveis da inflação se mantiveram relativamente baixos (em torno de 1%), desde o início do 2.º semestre de 2021 que temos vindo a assistir, mensalmente a um crescimento acentuado dos preços de muitos bens e serviços essenciais e, consequentemente, a um agravamento da inflação.
Por esta razão, depois de, em 2020, a inflação anual ter sido praticamente nula (-0,01%), em 2021 ela foi já de 1,3%, e as actuais perspectivas para o corrente ano vão no sentido de um agravamento ainda mais acentuado.
Para termos uma ideia dos níveis de agravamento que se registam na inflação no início deste ano, diga-se que essa subida geral dos preços (medida pelo IPC) foi em Janeiro, comparativamente com o mesmo mês de ano passado, de 3,3%, e em Fevereiro de 4,2%. Ou seja, se este ritmo se mantiver para os próximos meses, teremos, no final deste ano, uma inflação anual entre 3 a 4%; o que significa um forte agravamento do custo de vida das famílias em 2022.
… E PODER DE COMPRA CAI
Os custos objectivos do agravamento que se está a registar na inflação são que os actuais salários dos trabalhadores – e em particular dos da Administração Local – não lhes permitem comprar a mesma quantidade de bens e serviços, já que diminui o seu poder de compra, ficando a vida, para muitos, ainda mais difícil.
Assim, se a actualização salarial de 0,9% – aprovada pelo governo PS para vigorar no corrente ano, depois de 12 anos de congelamento salarial – foi insuficiente para cobrir a inflação de 1,3% registada em 2021, o seu súbito agravamento a partir do 2.º semestre do ano passado vem tornar ainda mais difícil a vida de milhares de trabalhadores.
E a manterem-se os actuais ritmos de crescimento mensal dos preços dos chamados bens energéticos consumidos pelas famílias – que incluem, entre outros, o preço da electricidade e do gás – e dos preços dos combustíveis consumidos nos transportes pelas famílias e dos chamados bens alimentares não-transformados, de um ano para o outro a inflação média anual passa de um nível em torno de 1%, nos últimos nove anos, para um nível que poderá situar-se 3 a 4 vezes superior, o que se tornará insustentável para milhares de trabalhadores.
ACTUALIZAÇÃO DE PENSÕES, SALÁRIOS E PRESTAÇÕES SOCIAIS
Perante este cenário de continuação do agravamento dos níveis de inflação em Portugal nos próximos meses, que os últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia podem potenciar ainda mais, exige-se da parte do novo governo PS a preocupação de se acompanhar a evolução dos preços dos chamados bens e serviços essenciais (rendas de habitação, produtos alimentares básicos, preços dos transportes públicos, bem como da electricidade, gás e água, e taxas de juro de empréstimos à habitação, entre outros) intervindo sempre que necessário para evitar escaladas de preços que possam pôr em causa o acesso a esses bens e serviços essenciais à nossa população e, por fim, tornar-se-á imperativa, ainda durante o corrente ano, uma actualização intercalar das pensões, dos salários dos trabalhadores da Administração Pública e das prestações sociais.
É agora a altura do governo PS concretizar muitas das promessas que foi fazendo ao longo dos últimos meses.
In Jornal do STAL n.º 122