António Marques
ALDEIA HISTÓRICA DO PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS
A aldeia, do município de Arcos de Valdevez, tem nos socalcos uma marca identitária única, que remontam ao século XVI, e que, em 2017, foram declarados Monumento Nacional. São um exemplo perfeito da adaptação humana à natureza, criando um cenário rural naturalmente significativo.
São poucos os portugueses que já tiveram oportunidade de visitar o Tibete, região autónoma da China, ao norte da cordilheira dos Himalaias, em que se destaca o imponente Monte Evereste.
Salvaguardadas as devidas comparações, o «Jornal do STAL» propõe-lhe uma viagem à descoberta do pequeno “Tibete” português, aldeia histórica situada nas terras altas do Minho.
A aldeia de Sistelo – vencedora na categoria de “Aldeia Rural” no concurso das “7 Maravilhas de Portugal” – situa-se no concelho de Arcos de Valdevez, junto à nascente do rio Vez, e possui características que a tornam um destino singular, como os seus socalcos.
Moldados ao longo de centenas de anos (designadamente desde o séc. XVI) pela intervenção humana e aproveitados para a produção de milho e pastorícia, e os canais de água para o regadio, os “terraços” transformam a encosta da montanha numa tela ondulante de tonalidades verdes.
O desafio é que descubra pelo seu próprio pé esta antiga povoação medieval, com apenas 270 habitantes, situada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e que se deixe arrebatar pelo rico património rural e natural da região.
Em plena Reserva Mundial da Biosfera, Sistelo é um verdadeiro convite à descoberta desta área protegida e ao desbravamento dos múltiplos segredos naturais da região.
SÍTIO DE INTERESSE NACIONAL
Primitivamente, foi uma póvoa medieval, de cujo período parecem sobreviver traços em elementos como a implantação do cruzeiro, do fontanário ou na organização do casario. E a excepcionalidade e elevado valor patrimonial de Sistelo conduziram a um processo de classificação “Paisagem Cultural”, na forma de Monumento Nacional/Sítio de Interesse Nacional, a primeira do seu género em Portugal, abrangendo os lugares de Igreja, Padrão e Porta Cova.
As razões para tal distinção saltam à vista assim que pisamos a terra e avançamos pelo território adentro, deslumbrando-nos com a sua localização privilegiada, junto da nascente do rio Vez, e em que cada centímetro quadrado de terreno disponível foi sabiamente aproveitado, com os socalcos a segmentarem a serra.
Os terrenos agrícolas, de solo profundo e fértil, foram trabalhados nas vertentes das montanhas, sobrepostos em escadaria, e suportadas por grandiosos muros de pedra, estruturas que permitiriam o desenvolvimento de uma agricultura de subsistência, de extrema importância para a fixação das comunidades rurais. E associados a estas plataformas construíram-se canais para o transporte de água dos pontos mais altos das montanhas, poços e cursos de água, para os campos.
Estes canais ou regadios, que em alguns casos se estendem por dezenas de quilómetros, são fundamentais para a subsistência das culturas nos meses de Verão.
“ARREGAÇAR AS MANGAS”… E CAMINHAR
Os espigueiros e o lavadouro de Sistelo comprovam a natureza comunitária das actividades tradicionais locais, e o castelo, romântico e revivalista, foi construído no séc. XIX, à medida que Alexandre Herculano reabilitava o imaginário dos romances de cavalaria e das batalhas da Idade Média.
A Casa de Sistelo insere-se nessa tradição, com as suas torres mandadas erguer por um emigrante regressado do Brasil, tendo sido reconstruída recentemente, justificando também uma visita demorada.
Saciada a curiosidade com o património histórico, é tempo de “arregaçar as mangas” e caminhar. A Ecovia do Vez, em Arcos de Valdevez, estende-se por 32 km, e um dos três troços começa (ou acaba) no Sistelo, ligando-o à aldeia vizinha de Vilela, com parte do percurso (cerca de 10 km) a ser realizado em passadiços, e a outra num encantador trilho.
Umas pequenas férias por aqui devem incluir vários pontos de referência como a foz do rio Vez, a vila de Arcos de Valdevez, a rústica ponte de Vilela, moinhos de água e várias praias fluviais, ideais nos dias mais quentes de Verão. E a vasta fauna e flora da região estará também sempre a perfumar-nos os pulmões e a saciar-nos a alma.
Assim como a rica gastronomia do Minho está igualmente disponível nos restaurantes do Sistelo, e alguns são “catedrais dos sabores” ancestrais da região.
Para dormir escolha uma Casa de Campo, um alojamento local ou um hotel, que os há, e de qualidade, no Sistelo.
PASSADIÇOS DO SISTELO
Um dos pontos altos da região são os passadiços – que o Município de Arcos de Valdevez pretende alargar às aldeias de Padrão e Porto Cova – e alguns dos trilhos mais bonitos do Gerês, quase sempre pelas margens do rio Vez. O Trilho dos Passadiços do Sistelo tem apenas 2 km – mas a sua inserção na Ecovia do Vez possibilita que a caminhada se estenda por 32 km –, através de bosques e pontes medievais, ermidas, capelas e espigueiros, cascatas e soberbas paisagens naturais.