EDITORIAL

À custa do empobrecimento dos trabalhadores, da população em geral e do desinvestimento nos Serviços Públicos, repetem-se os auto-elogios do governo à performance económica do País, ao crescimento acima da média da OCDE, ao aumento da receita fiscal e ao défice orçamental de 0,1 %. Governo que se recusa a taxar os lucros extraordinários dos grandes grupos económicos que, num ano, praticamente duplicaram, à custa do aumento especulativo dos preços, seja nos produtos alimentares, nos serviços e, sobretudo, nos créditos bancários, com a ajuda dos amigos do Banco Central Europeu e dos bancos centrais (de onde saíram e provavelmente para onde irão), que têm o poder de determinar que a riqueza gerada pelos trabalhadores vai, cada vez mais, para os patrões e, cada vez menos, para os trabalhadores.

O governo PS já esfrega as mãos de contentamento, pois a previsão da receita fiscal para 2023 – saída, essencialmente, do bolso de quem trabalha – aponta para mais 4 mil milhões de euros, fruto da variação da inflação.

Parece que o País está melhor, embora o povo não dê por isso, pois quem trabalha está muito pior, sobretudo os trabalhadores da Administração Pública, que, desde 2009, continuam a “sentir na pele” as suas condições de vida a degradarem-se. Hoje, 19,4 % da população, grande parte empregada, vive em situação de pobreza ou de exclusão social, com 30% a não conseguir pagar de imediato uma despesa inesperada, vendo-se muitos deles obrigados mesmo a “devolver” a casa ao banco.
É urgente uma mudança de rumo para o País, que rompa com esta política de desigualdades e de empobrecimento.

Foi a luta persistente dos trabalhadores que obrigou o governo PS a abandonar a lógica de impossibilidade de aumentos intercalares, um vergonhoso 1% de “aumento”, a que se juntam medidas pontuais. Portugal não pode continuar a ser um País com salários dos mais baixos na Europa e com um nível de desinvestimento nos Serviços Públicos sem paralelo e que empobrece a nossa democracia.

Será a luta dos trabalhadores que obrigará à alteração das políticas que põem em causa os seus direitos e interesses e que comprometem o futuro do País. No Dia Nacional de Luta da CGTP, em 28 de Junho, os trabalhadores da Administração Local marcaram presença em cerca de 60 acções em todo o País, com greves, paralisações, plenários, concentrações e manifestações, exigindo medidas urgentes para combater o custo de vida e o aumento imediato dos salários em, pelo menos, 100€ para todos os trabalhadores; aumentos extraordinários dos que foram actualizados, mas cuja revisão foi absorvida pela inflação; fixação do SMN em 850€; o fim da precariedade e respeito pela Contratação Colectiva. Cerca de metade destas acções ocorreram em empresas dos sectores de tratamento e abastecimento de água, recolha e tratamento de resíduos e da higiene urbana, e nas empresas do Sector Público Empresarial, multimunicipais, intermunicipais e municipais, em que vigoram os baixos salários, a precariedade e a falta de condições laborais.

Nesta imensa e intensa mobilização, o STAL reforça-se, com um nível de novas sindicalizações superior aos últimos anos, com a eleição de novos delegados sindicais, num ano com dois momentos de grande importância para a nossa vida colectiva: a realização da IV Conferência Sindical e as eleições para o quadriénio 2024-2027.

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